21.7.05

Radicais e moderados, utópicos e realistas

Existe correntemente na linguagem política em Portugal (e na Europa também, na verdade) uma peculiar imprecisão de termos. Palavras como "liberal", "conservador", "socialista" ou "social-democrata" deixaram de ter sentido claro. Em parte, está bem assim. Os grandes conceitos políticos têm e devem ter certa maleabilidade, não havendo uma "via única" para o "liberalismo" ou a "social-democracia". Mas mesmo descontando esta maleabilidade, a imprecisão parece ter sido levada hoje a um ponto que vai para além do aconselhável. O estado do vocabulário político lembra um pouco o dos tempos finais da URSS, em que eram apresentados como "conservadores" aqueles apostados na sobrevivência e aprofundamento do "comunismo" e como "revolucionários" os que pretendiam uma transformação "capitalista".

(...)

Numa idade democrática, o liberalismo é o único refúgio dos verdadeiros conservadores, sendo também ele que garante a ordem política mais "moderada" e "realista" que é passível de combinação com a democracia. "Radical" e "utópico" é o estado de coisas em que vivemos, cuja funcionalidade, precisamente por isso, não poderá sobreviver por muito mais tempo.