Já agora
Não creio que se deva fazer de Campos e Cunha um mártir do socialismo militante dos seus colegas de governo.
Lembro-me de o ouvir dizer que ele também tinha sido militante, mas que a carreira académica o tinha afastado fisicamente da militância. Nessa mesma carreira académica e na vida profissional que teve como professor e no Banco de Portugal, ele teve certamente oportunidade de avaliar os pressupostos e efeitos (mesmo os não vísiveis e imediatos, que normalmente são ignorados) de uma política de gastos públicos como motor de uma economia.
Durante a campanha, ele, tal como todos os portugueses, ficou com a certeza que era isso que o PS de Sócrates propunha, ou seja, a mesma receita de sempre da cartilha socialista: mais impostos, mais obras públicas e mais estado social, omnipresente e de todos, por igual, protector.
Não havia maneira de ele não saber que se iria degladiar com essa vontade de deixar obra - mais ainda quando foram apresentados os ministros da Economia e das Obras Públicas.
Acredito que a sua vontade e honestidade intelectual presumissem, face aos factos e aos números das contas públicas, da razoabilidade das decisões a serem acordadas pelo governo e que o PM seria sempre o primeiro a impôr sensatez a esses macro-planeadores. Talvez alguma ingenuidade estivesse misturada com um verdadeiro espírito de serviço ao país. Cumprimento e louvo o seu esforço que, aparentemente, lhe causou algum desconforto e cansaço.
Mas os sinais estavam todos lá e à vista de todos. Pelo menos para os que encaram com pessimismo a capacidade de os governantes, que gerem o dinheiro dos impostos, de resistir a deixar obra duradoura enquanto satisfazem os desígnios dos aparelhos partidários, para não falar de outros interesses corporativos.
Já agora, não convinha tratar Campos e Cunha como um mártir. As linhas com que se coseu foram por si escolhidas.
por LA @ 7/21/2005 11:59:00 da manhã
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