A luta da liberdade
No 25 de Abril de 1974, tinha um ano e poucos meses. O meu pai estava no ultramar e a minha mãe, sozinha e comigo a cargo, trabalhava. A vida não devia ser fácil naqueles dias. Era de certeza duro tirar um curso superior, casar, pensar em constituir família e, ao invés, ver-se envolvido numa guerra colonial cujos propósitos estavam (mesmo com a vitória militar) condenados ao fracasso.
O que veio com o 25 de Abril também não deve ter sido agradável. Vidas de inocentes, pessoas comuns que apenas trabalhavam e investiam, destruídas ou, pelo menos, a sofrer duros golpes. A democracia não nasceu naquele dia, mas mais tarde, 16 meses mais tarde. A revolução de Abril terminou com uma ditadura, mas não fosse a coragem de alguns e a fibra da maioria dos portugueses e teria aberto as portas a outra. A um regime não apenas autoritário, mas totalitário, de cariz comunista que nos transformasse num satélite mais da URSS. Um regime bem pior que aquele que alguns militares nos libertaram naquela manhã de Abril.
A leitura de muitos dos comentários, efusivos e nostálgicos, de vários blogues, a maioria escritos por pessoas da minha geração, sem nenhuma memória da revolução, faz-me sentir no ar uma certa dose de falsidade. O sentimento não é verdadeiro, ou então foi tal forma interiorizado que há quem nele acredite como que de uma alucinação dos sentidos se tratasse.
Toda esta amplificação do sentir por uma revolução que nunca se viveu apenas tem uma justificação. A chantagem psicológica. Ela foi a arma da esquerda nestes 31 anos e, para muitos, terá de continuar a ser. Mesmo que o país não tivesse caído nas garras de Cunhal e seus acólitos, ele transformou-se em algo manifestamente socialista, manifestamente de esquerda. A chantagem psicológica que a esquerda usa sobre a direita serve para a intimidar e demonstra uma realidade: Para a esquerda o 25 de Abril de 74 é dela. Ao augurar-se herdeira da revolução ela pretende dizer que o projecto nascido há 31 anos é socialista. Ora, sucede que há aqui um contra-senso. É que se temos todos de ser socialistas, não há verdadeira liberdade. Este é um dos erros da esquerda e uma das ‘armas de arremesso’ que a direita devia usar.
A esquerda não quer um regime mais livre. Quer um regime mais socialista. A esquerda agarra-se à memória de Abril, da mesma forma que defende com unhas e dentes o Preâmbulo da Constituição. A direita tem de usar as mesmas armas. Pagar na mesma moeda. Tem de fazer seu o 25 de Abril. Tem de dizer que quer mais liberdade, que o regime que temos só dá azo a governos socialistas e nunca a governos liberais e que só aquilo que defende permite que todos, liberais e socialistas, tenham lugar no nosso país. Para cumprir Abril.
por André Abrantes Amaral @ 4/26/2005 12:02:00 da tarde
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