Os vinte e cincos de Abril
Para mim há pelo menos dois vinte e cinco de Abril: o de 1974 e o de 1975. E estou a falar só em Portugal, em Itália, por exemplo, também é dia feriado: o Dia da Libertação que marca o fim, oficialmente, da Ocupação nazi da Itália em 1945 (por isso, faz hoje, exactamente, 60 anos).
Mas, no caso particular, interessam-me os vinte e cinco de Abril portugueses. Eu era novo quano aconteceu o de 1974, ia fazer 11 anos e andava no então ciclo preparatório. Isto quer dizer que fiz toda a Primária sob o Estado Novo, com o crucifixo na sala de aulas entre as fotografias de Tomás e Marcello. Mas descansem que não fiquei traumatizado com isso (apesar de ter sido obrigado a decorar as importações e exportações Angola e Moçambique, por exemplo).
O 25 de Abril de 1974 foi um excelente dia feriado inesperado. Ainda por cima era dia da disciplina de Trabalhos Manuais que eu verdadeiramente odiava. Lembro-me ainda que o meu pai chegou mais cedo a casa, ele trabalhava então em plena Avenida dos Aliados, dizendo que a polícia tinha desaparecido das ruas, em alguns casos com os agentes perseguidos pelos populares. Enfim, mas nada de especialmente dramático.
Todavia, este 25 de Abril não passou de um golpe de estado militar que, por sua vez, se desenvolveu numa tentativa da esquerda comunista e da extrema-esquerda de apropriação do poder.
E esse processo leva-nos directamente ao segundo 25 de Abril: o de 1975, o das eleições para a Assembleia Constituinte, aquele que os comunistas e a extrema-esquerda, o MFA e parte do Conselho da Revolução não queriam que se realizasse, pois achavam que as conquistas da revolução não poderiam ser dissipadas pelo voto popular (como se sabe os progressistas sabem sempre o que é melhor para o povo).
O 25 de Abril de 1975 foi absolutamente importante porque mediu a verdadeira representação das forças políticas existentes. Havia muita gente a falar em nome do povo, mas o povo não estava com ela.
O 25 de Novembro veio pôr um ponto final na estrada totalitária. Mas os cerca de 16 meses de brincadeira aos totalitarismos custou-nos vários anos de atraso de desenvolvimento do país.
Por isso tudo, não tenho a certeza que o 25 de Abril de 1974 seja o Dia da Liberdade. Foi sem dúvida o dia em que uma ditadura anacrónica, desfasada do tempo e quase patética foi derrubada. Mas, havia gente que, na sequência dele, estava disposta a impor-nos as cadeias de uma nova servidão. É certo que foi este dia que nos permitiu ser uma democracia. Mas foi preciso lutar por ela. Por seu lado, o 25 de Abril de 1975 foi um dos passos importantes dessa luta pela liberdade.
A liberdade não veio automaticamente com o 25 de Abril de 1974. E disso parece que há muita gente que se esquece.
por Rui Oliveira @ 4/25/2005 04:30:00 da tarde
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