11.4.05

As críticas do AAA ao Concílio Vaticano II (?)

  1. O ARTIGO DO PAT BUCHANAN: factualmente errado, teologicamente pouco informado

    O AAA citou aqui um excerto do artigo do Pat Buchanan. Nesse excerto defende-se que a Igreja entrou em declínio desde o Concílio Vaticano II e que durante o pontificado de João Paulo II esse declínio não se inverteu.

    Sobre esse artigo, deixei-lhe na caixa de comentários dois comentários:

    • A afirmação é factualmente errada.

      Em números absolutos, o número de católicos tem aumentado a nível mundial: "The increase between 1978 and 2000 was 288 million".

      O declínio regista-se apenas nalguns países europeus 'pós-cristãos'.

    • O texto do Pat Buchanan é teologicamente pouco informado.

      Onde é que está escrito que a Igreja na terra terá sempre um crescimento constante até à 2ª vinda do Senhor?

      Não está escrito em lado nenhum.

      Aliás, da leitura do Catecismo pode até concluir-se o contrário:

      "675 Before Christ's second coming the Church must pass through a final trial that will shake the faith of many believers...

      677 The Church will enter the glory of the kingdom only through this final Passover...The kingdom will be fulfilled, then, not by a historic triumph of the Church through a progressive ascendancy, but only by God's victory over the final unleashing of evil..."


  2. Na sequência destes comentários, o AAA publicou 3 posts.

    No primeiro post e no segundo post são citados dados sobre o declínio das vocações, da educação católica, dos Baptismos e da participação na eucaristia dominical. Todos estes dados se referem aos EUA.

    Nenhum dos dados apresentados coloca em causa o facto de que a Igreja cresceu durante o pontificado de João Paulo II. E nenhum destes factos coloca em causa que o artigo de Pat Buchanan é teologicamente pouco informado.

  3. A citação do Cardeal Ratzinger

    No terceiro post o AAA cita o Cardeal Ratzinger em defesa da sua (?) crítica ao Concílio Vaticano II.

    Em primeiro lugar, convirá dizer que a citação em causa é de 1984. Precede, portanto, os 288 milhões de baptismos que entretanto ocorreram. Será que 20 anos depois o Cd. Ratzinger voltaria a dizer o mesmo?

    Em segundo lugar, se por detrás destes posts do AAA se encontra uma crítica doutrinal ao Concílio, então dificilmente o Cardeal Ratzinger, Deão do Colégio dos Cardeais, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e participante (como perito) na Concílio Vaticano II, poderá ser chamado em defesa destas posições. Aliás, em vários sítios o Cardeal Ratzinger elogia o Concílio. Por exemplo: "The Second Vatican Council served to recover the public dimension of the Christian commitment which had been obscured".

  4. "...não me parece razoável nem um bom serviço à Igreja...tentar ignorar a realidade e actuar como se tudo estivesse bem."

    Num dos seus posts o AAA conclui com a frase acima citada.

    • Em primeiro lugar, será bom esclarecer que desde o seu nascimento que a Igreja está em crise! Repare-se nas descrições dos Actos dos Apóstolos e nas epístolas de Paulo sobre os problemas das primeiras comunidades cristãs (divisões, heresias, apostasia, imoralidade, invejas, etc..., etc...). Ou então, repare-se na história da Igreja: os ciclos heresia-concílio-cisma-heresia repetem-se, por vezes interrompidos por guerras religiosas, massacres, apostasias, etc...

      Portanto, nada do que hoje se passa é novo.

      E de acordo com a citação do Catecismo que acima apresento, o futuro não parece ser muito brilhante...

    • O que fazer então? De que forma devemos 'actuar'?

      Bom, devemos ser Santos. Foi isso que Jesus nos pediu. Frequentemos os Sacramentos, dediquemos tempo à oração, tentemos cumprir os mandamentos da Lei de Deus, os mandamentos da Igreja, tentemos viver as beatitudes e ir praticando as obras de misericórdia.

      E assim iremos anunciando o Evangelho. (Aconselhava o S. Francisco de Assis: "Evangelizem sempre. Quando necessário utilizem palavras").

      E devemos também evitar uma particular forma de orgulho: este tipo de preocupações 'quantitativas', que são legítimas, levam por vezes a um tipo de análises que transforma a Igreja numa realidade meramente humana - uma organização a cujo CEO se exige um crescimento constante.

      S. Paulo adverte contra esta manifestação de orgulho: "I planted the seed, Apollos watered it, but God made it grow. So neither he who plants nor he who waters is anything, but only God, who makes things grow. The man who plants and the man who waters have one purpose, and each will be rewarded according to his own labor. For we are God's fellow workers; you are God's field, God's building."

      Deus é o Senhor da história.

      Depois de cada crise, normalmente, surge um Santo, uma nova congregação, um novo período de grande piedade. Hoje em dia desenvolvem-se vários movimentos e obras e novas congregações, fiéis ao magistério, onde se vê, se ouve e se sente a presença do Espírito.

    • E como é que não devemos actuar?

      Evitemos pensar que somos mais Católicos do que o Papa ou do que a Igreja. Esse é o caminho do Cisma.
P.S. A propósito da eleição do novo Papa, mas não só, um conselho do S. Josemaria:
"O amor ao Romano Pontífice há-de ser em nós uma formosa paixão, porque nele vemos a Cristo. Se tivermos intimidade com o Senhor na nossa oração, caminharemos com um olhar desanuviado que nos permitirá distinguir, mesmo nos acontecimentos que às vezes não compreendemos ou que nos causam pranto ou dor, a acção do Espírito Santo."
S. Josemaria Escrivá