Sgrena e o jornalismo
Certamente já toda a gente ouviu falar de Giuliana Sgrena, a jornalista italiana do jornal comunista "Il Manifesto", raptada no iraque e das circunstâncias dramáticas em que se deu a sua libertação. O companheiro de Sgrena diz que os americanos a queriam matar, ela afirma que foi embuscada, que os raptores a tinham avisado que os americanos não a queriam viva, etc., etc. etc.
Entretanto, dei por acaso com este artigo no jornal Nederlands Dagblad, publicado em 8 de Março, da autoria de Harald Doornbos que tinha viajado no mesmo avião de Sgrena para Bagdade.
Penso que o artigo é interessante, pelo que o traduzi (desde já agradeço a ajuda recebida), para ficarmos a perceber quem é esta senhora.
A jornalista Sgrena tem ódio aos ianques
Pelo nosso correspondente Harald Doornbos
BEIRUTE – “Vê lá se não és raptada”, disse eu à jornalista italiana sentada ao meu lado no pequeno avião com destino a Bagdade. “Oh, não”, disse ela.. “Nós estamos do lado do oprimido povo iraquiano. Nenhum iraquiano nos raptará.”
Oito dias mais tarde, esta mulher, Giualina Sgrena, foi raptada por iraquianos armados no decurso de uma visita à universidade de Bagdade. Um mês após o seu rapto foi libertada. Mas não diz como. Um pouco mais de quatro semanas esteve ela prisioneira, tendo aparecido numa mensagem vídeo na televisão, a soluçar, suplicando pela sua vida, pedindo a retirada das tropas italianas. Ela disse também que “o Iraque não era país para jornalistas”. Depois, seguiram-se negociações entre as autoridades italianas e o grupo de raptores que ameaçou decapitá-la.###
Muito provavelmente, sexta-feira passada, foi pago um resgaste, após o que membros dos serviços de informações italianos foram buscá-la. Mas a atribulação ainda não tinha terminado. Após Sgrena ter sido libertada, o condutor rodava demasiado rápido e o seu carro foi baleado num posto de controlo do exército americano quando seguia em direcção ao aeroporto internacional de Bagdad. Uma bala atingiu Sgrena num ombro; um agente secreto italiano foi morto por uma bala.
Sgrena, que chegou sábado passado a Roma, afirmou que os americanos queriam assassiná-la. O membro dos serviços secretos teve ontem uma funeral de estado e em Itália é venerado como um herói.
Não parece muito simpático criticar uma colega jornalista. Mas a atitude da Sgrena é uma vergonha para os jornalistas. Ou não me tinha ela dito antes no avião ao meu lado que “jornalistas normais como” tu não apoiam o povo iraquiano. “Os americanos são os maiores inimigos da Humanidade”, disseram-me as três mulheres italianas,pois Sgrena viajou para o iraque com duas colegas italianas que também odiavam os americanos.
Quando eu disse que não iria viajar assim para Bagdad, mas que ia para o Iraque como jornalista “incorporado” (o que implica viajar durante um certo período com o exército americano), fui certamente tratado por elas como um grande traidor. “Eu apenas não quero ser raptado” disse-lhes e essa “era a única razão para ir com os americanos”.
Risos. “Não estás a compreender a situação. Nós somos anti-imperialistas, anticapitalistas, comunistas” disseram. Os iraquianos raptam apenas os simpatizantes dos americanos, os inimigos dos americanos não têm nada a temer.
Então eu disse-lhes que eu pensava que elas não estavam bem da cabeça. Tu realmente não podes negar mais que no Iraque já operavam grupos da al-Qaeda, que caçavam especificamente jornalistas ocidentais, expliquei-lhes. E que os combatentes da al-Qaeda eram o expoente árabe do fascismo: anti-americanos, anti-judeus e – nomeadamente – anti-comunistas.
Mas elas mais espertas. Quando descemos no aeroporto de Bagdad, eu esperava por um jipe do exército americano que me vinha buscar. Entretanto, vi uma das três italianas do grupo da Sgrena a chorar e a andar às voltas, porque um iraquiano lhe tinha roubado o computador e o equipamento de televisão. Ficaram a tremer à espera de um táxi que as levasse para Bagdade.
Com a seu enviesamento total, Sgrena não apenas se pôs em perigo, como, devido ao seu comportamento, um agente de segurança está agora morto, e o governo italiano (primeiro-ministro Berlusconi incluído) teve que gastar milhões de euros para salvar a vida da jornalista. Espera-se que Sgrena escolha uma outra profissão. Publicitária ou deputada, talvez. Mas devia desistir imediatamente do jornalismo.
por Rui Oliveira @ 3/10/2005 12:03:00 da tarde
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