9.3.05

Putin e os clássicos

"There remains a lot more work to be done there," Putin said in remarks broadcast on Russian television. "We have to gather our forces to protect the people of the republic and citizens of all Russia from the bandits."

Excerto do artigo "Separatist Leader in Chechnya Is Killed", da edição de hoje do Washington Post.
Leo Strauss, como aliás a generalidade dos grandes filósofos, atribuía enorme importância à leitura dos textos clássicos. Há uma passagem da República de Platão, que é uma espécie de "história resumida" dos sucessivos tiranos russos, quer se trate de Estaline ou de Putin. Poderá ser particularmente elucidativa quando se procura entender por que razão um tirano prefere eliminar os opositores mais moderados, como parecia ser o caso de Maskhadov e preservar os mais radicais, como é seguramente o caso do facínora Basayev:
— Mas quando conseguiu, julgo eu, nas suas relações com os inimigos de fora, reconciliar-se com uns e destruir outros, e daquele lado há tranquilidade, primeiro que tudo está sempre a suscitar guerras, a fim de o povo ter necessidade de um chefe.
— É natural.
— E também a fim de os cidadãos, empobrecidos pelo pagamento de impostos, serem forçados a tratar do seu dia-a-dia e conspirarem menos contra ele?
— É evidente.
— E, segundo julgo, se ele suspeitar que alguns deles albergam pensamentos de liberdade que os afastem da obediência a ele, provocará essas desavenças, com o pretexto de os deitar a perder, entregando-os aos inimigos. Por todos esses motivos, um tirano tem sempre necessidade de desencadear guerras.
— Forçosamente.
— Mas tal procedimento predispõe os cidadãos a odiá-lo mais.
— Pois não!
— Mas não haverá alguns dos que ajudaram a elevá-lo àquela posição e que têm poder para falar livremente, diante deles e uns com os outros, e que critiquem os acontecimentos, pelo menos aqueles que forem mais corajosos?
— É natural.
Logo, o tirano tem de eliminar todos esses, se quiser governar, até não deixar ninguém dentre amigos e inimigos que tenha alguma valia.

Platão, A República
A reconstituição de um poder despótico na Rússia é uma péssima notícia para o mundo e por razões de ordem geopolítica é especialmente grave para a União Europeia, que tem muito a perder. Ou a ganhar: o poder económico europeu é decisivo no esforço de persuasão para que a Rússia inverta a "tendência autoritária".