26.3.05

O novo porteiro do Hotel Lutetia

"Houve quem criticasse fortemente a decisão do último Conselho Europeu sobre a suspensão da directiva do mercado único dos serviços, tomada sob pressão da França, a braços com uma forte reacção social e politica contra a "directiva Bolkenstein" e por tabela contra a Constituição europeia (as sondagens de opinião dão agora vantagem ao "não" nas intenções de voto para o referendo de 29 de Maio). Mas a aprovação da Constituição pela França vale bem um compasso de espera quanto à liberalização dos serviços na UE. Um chumbo francês significaria a morte do tratado constitucional."
Vital Moreira, Causa Nossa, 25-03-2005
Não se trata de ignorância económica: Vital Moreira enuncia o objectivo político com uma clareza cristalina e pouco lhe importa o preço a pagar, ou quem o paga. A verdadeira escolha sob o(s) processo(s) de decisão colectiva envolvendo o tratado constitucional é uma escolha entre visões políticas radicalmente distintas da Europa e do seu papel estratégico no mundo; não uma escolha entre "UE vs. não UE". Para os defensores de uma Europa socialista e subordinada aos interesses franco-germânicos, a aprovação do tratado é politicamente vital. Ironicamente a estratégia pode falhar porque a "pele de ovelha que disfarça o lobo" é tão convincente que confunde os próprios franceses.

Se a hipótese —funesta, para os socialistas— da reprovação do tratado constitucional se vier a concretizar, Chirac talvez encontre algum conforto na perspectiva de uma salinha para a posteridade nos Invalides. Afinal de contas, onde Napoleão falhou com os canhões, Chirac terá falhado com a caneta.