25.9.06

João César das Neves sobre as teorias da conspiração

Partindo de um acontecimento perturbador, insinuam-se suspeitas, esboçam-se relações sugestivas, aduzem-se aspectos reais mas laterais, contrói-se um edifício atraente de meias verdades, deduções deficientes, teorias possíveis. O resultado é infâmia.

Um importante exemplo recente é o documentário Loose Change, de Dylan Avery (2005), há pouco transmitido na RTP, que culpa a Administração americana pelos atentados de 11 de Setembro de 2001. As supostas provas seguem-se a uma velocidade espantosa, garantindo que nenhuma é vista em detalhe. O espectador fica esmagado pela quantidade, sem pensar na qualidade. Nenhuma referência válida é fornecida, a não ser em elementos espúrios. A imaginação domina. Sobretudo nunca se aplica à própria tese o mesmo tipo de crítica usado na versão oficial. Será credível que centenas de pessoas envolvidas em tão horrenda conspiração ficassem caladas? Algum presidente arriscaria tal barbaridade?

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A peça fundamental do estilo é o ódio. Qualquer dessas histórias centra-se sempre em alguém que se detesta. Os adeptos querem mesmo acreditar o pior de Bush, Santana Lopes, da GM ou da Igreja. Por isso, mais do que confiar na tese, eles proclamam a sua fúria e assim tornam-se fanáticos. Quanto mais louca for a teoria, maior o fervor. A raiva, não a lógica, é o cimento que mantém o edifício.