O escudo libanês

(Foto Skynews)

O professor Vital Moreira explica aqui porque critica o ataque de Israel ao Líbano. Compreendo, e naturalmente também partilho, o horror que Vital Moreira tem da guerra, mas já não entendo duas coisas:

Em primeiro lugar, não percebo como pretende Vital Moreira que Israel ataque o Hezbollah sem agredir o Líbano, quando aquele grupo guerrilheiro se esconde entre os civis libaneses. Em segundo, escapa-me por que razão Vital Moreira conclui este ‘post’ com o velho tema da Palestina.

Comecemos pela primeira questão que, aliás, nos leva à necessidade de esclarecer alguns pontos. Fala-se muito do erro israelita em atacar o Líbano, por hostilizar, dessa forma, ainda mais o mundo árabe contra si. Há neste raciocínio um erro de palmatória. Se o problema está em hostilizar, é preciso saber quem Israel hostiliza, porque se a resposta é o Hezbollah, a Síria e o Irão, o argumento cai por terra. Que preocupação poderá haver em não hostilizar quem já nos deseja a morte? Mas há mais, mais precisamente quando se menciona à exaustão os cuidados sociais que o Hezbollah presta ao povo libanês. Estes são, sem dúvida, verdadeiros. Mas serão sinceros? Seria muito interessante esclarecer, de uma vez por todas, as razões que levam aquele grupo guerrilheiro a tanto se imiscuir na vida privada das pessoas. Eu vislumbro uma que é a dos escudos humanos não serem de borla, mas estou aberto a mais sugestões.

A segunda coisa que não entendo em Vital Moreira (e com cujo esclarecimento ficaria agradecido) é o que tem a questão palestiniana que ver com esta guerra no Líbano. Dito de outra forma: Será que com o reconhecimento de um Estado Palestiniano independente e soberano, esta guerra no Líbano nunca teria existido? É que se Vital Moreira julga que não (e por isso se deu ao cuidado de chamar a Palestina à liça) que papel, no meio de toda esta trapalhada, atribui à Síria e ao Irão? Acreditará Vital Moreira na boa fé sírio-iraniana?

Um facto eu lamento profundamente: Que a força do Hezbollah esteja no se ter infiltrado entre o povo libanês. Esses homens, mulheres e crianças que se vêem forçados a servir de escudos humanos de quem nem coragem tem para enfrentar o inimigo de frente. E que homens cultos e de boa fé (como é o caso de Vital Moreira) nos dêem a entender não se darem conta isso.