31.7.06

Deslocalização cultural

Ao contrário da larguíssima maioria dos portugueses, a pianista [Maria João Pires] poderia viver onde quisesse - no rigor gelado das ilhas Spitzberg ou na civilizada Suíça, bem mais perto de públicos que valorizam o seu trabalho. Escolheu, no entanto, viver nos arredores de Castelo Branco, em Belgais, onde criou um centro destinado ao estudo da artes que, contando com o seu empenhamento, o seu dinheiro e os seus amigos, necessitaria também de apoio do Estado. O projecto de Belgais é mais do que interessante. Num país onde a "cultura literária" domina claramente a "cultura científica", a "cultura artística" ou o ensino das artes têm sido menosprezados e ignorados. É raríssimo encontrar uma escola pública que possa ensinar música, por exemplo. As artes ou são um luxo desprezado ou uma excepção sobrevalorizada. A ideia de Belgais é, por isso, generosa.

Acontece, porém, segundo entendi, que o dinheiro de Maria João Pires e os apoios do Estado (cerca de dois milhões de euros) não bastavam. Era necessário mais. Isso constitui um problema sério no país que tem dificuldade em gerir fundos tão pequenos como os atribuídos a uma direcção-geral ou ao pelouro da cultura de uma autarquia. Maria João Pires acha que isso, não conseguir levar adiante o projecto de Belgais, a levou a ser vítima "de uma verdadeira uma tortura" e que precisava de "fugir dos malefícios de Portugal".

Como se sabe, é fácil ser-se vítima em Portugal, sobretudo quando se tem uma ideia errada ou deficiente do país.
Sobre a referida instituição já, dois anos atrás, tive a oportunidade de discutir com o supracitado autor o financiamento público do projecto. Uma vez que não mudei de opinião, deixo aqui os links para os meus anteriores posts:
  1. Fraude Cultural

  2. Fraude Cultural II

  3. Financiamento da Cultura

  4. Financiamento da Cultura II

PS: agradecimentos ao insurgente AA por ter-me poupado algum trabalho de pesquisa!!!