Spin estatístico
É inacreditável que se anuncie uma taxa homóloga anual de crescimento do PIB de 1% desta forma. Para uma economia como a portuguesa, com gravíssimos problemas de consolidação orçamental e que deveria estar em processo de convergência com as economias mais ricas da UE, crescer a um ritmo de 1% ao ano é pouco menos do que desastroso. Aliás, qualquer taxa de crescimento abaixo dos 3% teria sempre de ser considerada preocupante no contexto português.
Para se ter uma ideia do descalabro, basta ter em atenção que o crescimento do PIB na zona Euro, segundo as previsões da Comissão Europeia, deverá ficar em 2006 na casa dos 2% (o que também, diga-se de passagem, não é famoso). Ou seja, tudo aponta para que, em vez de convergir, a economia portuguesa continue num acentuado processo de divergência. Enquanto isso, Polónia e Eslovénia deverão crescer acima dos 4%, a República Checa e a Irlanda ficarão provavelmente na casa dos 5% e Lituânia, Letónia e Estónia deverão ter taxas de crescimento do PIB ainda superiores, com a Estónia, um dos países que tem adoptado políticas mais liberais, a destacar-se com um crescimento na casa dos 9%. A própria Espanha, apesar de alguns problemas estruturais que afectam a sua economia, deverá crescer em 2006 cerca de 3%.
A estagnação e o aprofundamento do atraso relativo da economia portuguesa não surpreendem se considerarmos o peso brutal do Estado, o excesso de funcionários públicos, os sucessivos agravamentos da carga fiscal nos últimos anos, a grotesca ineficiência do sistema de educação estatatizado, a rigidez absurda do mercado de trabalho e a tentacular rede de restrições corporativas que atrofia o investimento e a iniciativa empresarial. Mas o governo podia pelo menos poupar-nos a este constante spin em torno das estatísticas.
Como se já não bastasse o agravamento do atraso português, ainda por cima andam a brincar connosco.
por André Azevedo Alves @ 6/09/2006 10:17:00 da tarde
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