8.6.06

O problema iraniano

O problema americano para lidar com o Irão não é militar, mas político. Uns quantos porta-aviões, F16 e armas de precisão bastavam para reduzir a cinzas o "programa nuclear iraniano". O problema americano está nas opiniões públicas ocidentais, cujo desafecto pelo seu mundo e horror ao conflito tornam impossíveis acções militares eficazes. Mesmo que essas acções visem impedir o fabrico de mais umas bombas nucleares. É típico do ocidental: toda a bomba americana é repugnante, mas fabricada em Teerão torna-se logo num miminho exótico a cultivar. Para além do milenarismo, é este o jogo do Presidente do Irão: a extraordinária acumulação de armas nos EUA corresponde, na verdade, a uma enorme fragilidade política.

O Irão arrisca-se a ser uma espécie de nova Coreia do Norte, o país que, de negociação em negociação vai recolhendo múltiplos subsídios ocidentais para impedir a fome da população, ao mesmo tempo que constrói um magnífico arsenal nuclear. Mas uma coisa é a Coreia, um pequeno território encravado entre a Rússia e a China. Outra, um dos maiores produtores de petróleo, bem no meio da mais explosiva região do mundo. Quando a bomba iraniana tiver obrigado os vizinhos a desenvolver a sua própria bomba (por motivos de equilíbrio regional), quando a bomba iraniana tiver servido para fazer avançar a "revolução islâmica", quando a "revolução islâmica" mantiver o Ocidente refém por via do fornecimento do petróleo (o que já vai fazendo), a conclusão não virá a ser certamente de que uma ameaça credível agora talvez tivesse impedido a situação de chegar tão longe. A conclusão, inevitavelmente, será de que os culpados são os americanos. Quanto a mim, não poderia estar mais de acordo.