Está na hora do discurso triunfante
Os partidos de esquerda podem estar metidos numa grande encrenca. Enquanto a globalização força a abertura dos mercados, os partidos de esquerda têm-se fechado num patriotismo primário que apenas visa fortalecer o Estado. Ao mesmo tempo que o desemprego aumenta na Europa, os socialistas teimam em manter os privilégios de alguns (que votam neles), em detrimento de outros que vêem os seus rendimentos (quando os há) irem para às mãos de um Estado que não os serve, sequer os ouve.
Para sustentar toda esta falta de lógica, os partidos de esquerda cometeram um erro. Ao explicar a omnipresença do Estado atacaram a capacidade das pessoas na condução da suas vidas. Instalaram a dúvida sobre as aptidões dos cidadãos. Os empresários são maus. Os professores precisam de ser orientados e fiscalizados. Os juízes e médicos de prestar contas. Os pais de confiar o ensino dos seus filhos ao ministério da educação e por aí fora. Para ser omnipresente, o Estado tem de parecer omnipotente.
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O preço a pagar é, politicamente, muito caro. Para salvar a visão socialista do Estado a esquerda assumiu um discurso derrotista. O de quem não acredita nas pessoas, naqueles que votam. Politicamente estamos a falar de um desastre, pois basta à direita dizer que acredita nos eleitores e defender políticas públicas que demonstrem isso mesmo. Está aberto o flanco. A esquerda socialista (porque antes de ela houve outras esquerdas) cresceu em Portugal porque foi positiva, contrariamente ao discurso provinciano e agrícola do Dr. Salazar. Agora que os partidos de esquerda se vêem forçados a defender medidas mercantilistas, está aberta a possibilidade de os partidos de direita, caso se assumam liberais (porque há muitas direitas), ganharem votos. A esquerda encostou-se à parede. É preciso, pois, apertá-la. Apertá-la com um discurso de direita, liberal e de confiança na capacidade dos cidadãos em decidirem, melhor que ninguém, o que fazer com as suas vidas. O cenário pode ser muito semelhante ao da Grã-Bretanha e dos EUA no final da década de 70.
por André Abrantes Amaral @ 5/08/2006 11:45:00 da manhã
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