25.4.06

Leitura recomendada (II)

A minha geração é incrível. É a geração que entrou com 25 anos no 25 de Abril. É a geração do pós-guerra e, por isso, muito dada ao (tendencialmente) gratuito. Uma geração que, depois da anterior ser de esquerda, quis ser ainda mais à esquerda: MRPP, LCI., MES (a minha) e Grito do Povo. Foi, de facto, uma geração de gritos.

No meu tempo as pessoas que se prezassem eram contra a exploração dos países pobres pelos países ricos. Estranhamente, agora que os pobres, como a China, estão finalmente a explorar os ricos, também são contra…

Uma geração que demorou a compreender que a palavra exploração tem dois sentidos. O dos marxistas, que diz que uns “exploram” os outros (roubando parte do seu trabalho) e outro, no sentido de fazer render os nossos talentos, a nossa capacidade de criar riqueza e servir os outros.

Ora a minha geração tomou a peito o primeiro e, por isso, não se cansou de explicar que o capitalismo – o mercado – é uma fraude que conduz ao roubo, ao engano. Talvez por isso, os mesmos que criaram sistemas sociais impostos, que estão na iminência de falir, não se sintam preocupados, e muito menos culpados. O povo está destinado a ser enganado e desta vez, embora o resultado seja o mesmo – uns a viverem à custa de outros –, houve boas intenções. Mas, por mais incrível que possa parecer, a minha geração continua a considerar-se utópica e altruísta.

(...)

Um dirigente desportivo de um clube de Lisboa acusou um dia um seu adversário de “amandar” empresas para a falência. A minha geração pretendeu ir mais longe, “amandar” a sociedade inteira para um grande embuste: “O caminho para a sociedade socialista”. A coisa, entretanto, faliu, mas o caminho (e o folclore) ainda consta no Preâmbulo da nossa “lei fundamental”, impondo assim às futuras gerações “A constituição do nosso atraso”, como escreveu ontem André Azevedo Alves, no Dia D do “Público”. Um jovem que é também autor do livro “Ordem, Liberdade e Estado”. Uma obra que espero seja mais um sinal de que a nova geração, que tem a mesma idade que a nossa tinha quando seu deu o 25 de Abril, está disposta a colocar, finalmente, o Estado depois da Liberdade. Seria incrível que a “geração rasca” fosse capaz de mostrar à geração que mais contribuiu para a criar que é capaz de se “desenrascar” e de pôr o País a navegar de novo com sucesso, levando a bom porto o barco da Liberdade. A Liberdade dos que crêem, com Herculano, contra os centralistas, que o progresso não virá senão do livre movimento dos indivíduos na esfera da sua actividade legítima.