5.2.06

Multiculturalismo e tolerância

Esta ideia de tolerar os energúmenos que, em público, queimam livros, bandeiras, jornais e efígies de cada vez que alguém brinca com o profeta, parece-me absurda. Tolerável; mas absurda. Tolerável, porque nós somos tolerantes; mas absurda porque instaura nas nossas ruas, nas nossas casas e nas nossas cabeças uma insuportável aura de medo e de covardia. Não se trata apenas de falar de um Deus que não ri nem quer ser objecto de riso (essa é outra matéria que, se quiserem, se discute a seguir); trata-se do medo e da submissão. O editor do "Jyllands-Posten" agiu bem não pediu desculpas. Disse, além disso (que não pedia desculpas), que não se trata de "um assunto de cartoons", mas de valores mais gerais - os da liberdade, os do riso, os da palavra. O Ocidente permite que se publiquem alarvidades anti-semitas ou trapalhices anticatólicas; mas uma parte dele treme de pavor quando vê os "mullahs" incitarem multidões a queimar bandeiras dinamarquesas por causa de uns cartoons. Eu acho bem que queimem, se lhes apetecer. Mas não aceito que as queimem em minha casa, na minha rua, sob o céu do Ocidente.