Ensaio sobre a cegueira
Por onde andará a Brigada dos Mártires da Al-Licenciosidade? A esta altura seria de esperar que já tivessem emitido uma catadupa de declarações em tom “veementemente condenatório,” censurando as estações televisivas e demais órgãos de comunicação social pela “irresponsável exibição” das imagens de violência da soldadesca em Abu Grahib.
Que estranho sortilégio explicará o plúmbeo silêncio do Oliveira, que não BE-berra contra este “abuso de liberdade” praticado pela comunicação social? Ou será que esta “mosca” lhe vem mesmo a calhar, para temperar as suas sopas de cavalo trotskista cansado?
Onde estão as mensagens conciliatórias dos Altos Comissários para a Dignidade do Homem? Certamente que ainda não tiveram oportunidade de ver sequer um fotograma dos horrores de Abu Grahib. De outro modo já se teriam pronunciado, manifestando a sua mais “profunda indignação” pela exploração "mediática, oportunista e comercial" dessas imagens de violência, sem atender às "consequências" para a “estabilidade” — o summum bonum de todo o invertebrado político — e para a “sensibilidade” do Outro.
Que é feito dos manuais destinados aos imprevidentes jornalistas sobre a liberdade — modo de usar e das “sérias advertências” quanto aos perigos de instigação de ondas de violência no mundo islâmico que a divulgação oportunista destas imagens pode causar?
Onde estão as meticulosas e especiosas distinções, os avisos contra as “generalizações,” enfim, toda a panóplia de cautelas a que a esquerda nos habituou ao longo das últimas semanas? Agora certamente que são devidos apelos ao “respeito” pela cultura cívica do povo americano e pelo seu presidente, que não podem nem devem ser confundidos com os desmandos de uma soldadesca irresponsável e desumana.
Por que razão não é “evidente” que as inenarráveis sevícias já conhecidas e as agora reveladas se devem exclusivamente à fraca cabeça dos responsáveis pela penitenciária? Bastava terem organizado um torneio prisional de futebol de salão e acabavam todos — torcionários e prisioneiros — abraçados, mas no paroxismo do golo, não no do choque e espasmo. E sem sombra de licenciosidade, bem entendido.
por FCG @ 2/15/2006 05:48:00 da tarde
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