5.12.05

MGlass ou a esquizofrenia institucionalizada (II)

A falência de um case-study
A marca Mglass surge ha cinco anos como projecto de reestruturação do sector do vidro da Marinha Grande. O objectivo era apostar no design de qualidade e de gama alta, e encontrar um canal de escoamento da Industria, afectada pela feroz concorrência da paises como a China. As empresas que aderissem ao projecto era-lhes concedido o direito de utilização da marca em troca da adopção de regras de qualidade nos seus processos de produção. E eram postos ao dispor da industria jovens designers e comerciais que garantissem estratégias de mercado adequadas. A Mglass ganhou prémios de design nos EUA, na Europa, incluindo Portugal, e conseguiu entrar em todos os grandes armazéns de retalho de qualidade norte-americanos, como o Macy’s. Conquostada a notoriedade no mercado, o projecto começa a falhar no lado da produção, com problemas na qualidade das encomendas, atrasos na sua entrega ou mesmo ausência do cumprimento de contratos. Hoje a produção esta reduzida quase a zero. “Ha algumas vendas na Europa e em Portugal mas muitas encomendas não estão a ser satisfeitas quer na Europa, quer nos EUA, por falta de produto”, afirma Jorge Moctezuma. Fontes do mercado adiantam, no entanto, que, pelo menos nos EUA, esta a ser vendido apenas o que existe em stock.


Este caso explica varias coisas, todas importantes:

###

Porque razão o Plano Tecnologico estatal é uma anedota,

Porque razão a industria portuguesa não é nem nunca ha-de ser competitiva,
Porque razão o défice do estado é tão elevado,
Porque razão é que nunca se ha-de “cumprir Portugal”.
Etc.
Risivel.
Não são no entanto estas as questões fundamentais. Mais 100 milhões menos 100 milhões, a pobreza é endémica e o desperdicio regra. Mais Plano menos Plano, so as moscas mudam. O verdadeiramente importante nesta historia miseravel é o aniquilamento do génio, o mais absoluto desprezo pela excelência e pelo melhor da criatividade, inteligência e esforço de que alguém foi capaz. Esta gente, que conseguiu destruir o brilho de outros, são os que Rand chamava “looters”, são a escumalha mais miseravel que não merece a palha que come. E provavelmente serão ainda recompensados pelo que fizeram. Houve “jovens designers e comerciais” que deram o melhor de si e conseguiram o que, se pensarmos bem, é quase inimaginavel. Conheço pouco do vidro, mas através de amizade que tenho no meio da Arte do vidro, sei que Japoneses, Alemães e Americanos dominam o mercado Mundial. Haver portugueses que conquistam um (um!) prémio de design do vidro (a que o jornal Publico chamou uma espécie de Oscar do vidro) nos EUA merece que este pedaço de sebo à beira-mar se ponha de joelhos. Conseguir entrar no mercado de qualidade norte-americano, como fizeram os tais “jovens comerciais” não esta ao alcance de qualquer um. Foi isto que a escumalha destruiu, o génio destas pessoas. E não ha crime maior do que isto. Aos responsaveis pelo sucesso parcial desta “coisa” diria que se pusessem a andar daqui para fora, porque o pais onde (julgo) nasceram não os merece. São muito maiores e melhores que a mesquinhez tacanha da generalidade dos portugueses.
Este assunto não fica por aqui. Anda-me a germinar uma ideia ha muito tempo ja, que este caso (mais uma vez) vem clarificar e que tem que ver com as eventuais vantagens comparativas de que Portugal pode usufruir, na àrea do conhecimento. Não adianta vir com um Plano Tecnologico mais ou menos onanistico. Quando estiver a funcionar em 2030 (daqui a uma geração) Portugal estara pronto para competir no mundo globalizado de 2005. A palavra chave, é Criatividade. E onde existe potencialmente em maior quantidade e qualidade? Na Arte, não é na tecnologia. Mas fica para outro post.