6.11.05

Equivocos

“Ayn Rand, for one, thought that the only rational behavior is egoism, and books aiming at increasing personal wealth (presumably at the expense of someone else’s wealth) regularly make the bestsellers list.”
Ao juntar o “rational egoism” de Rand com “increasing personal wealth (presumably at the expense of someone else’s wealth)”, o autor mostra que não leu o seguinte trecho do discurso de John Galt em Atlas Shrugged:
"I swear by my life and my love of it that I will never live for the sake of another man, nor ask another man to live for mine."
Ayn Rand na voz de Galt.
Porquê “presumably at the expense of someone else’s”? Aliás em toda a obra de Rand, ela condena quem aumenta o seu poder, riqueza, bem estar, etc à custa de outrem. Os exemplos são mais que muitos, a começar por Peter Keating, personagem de Fountainhead. Mas parece-me que esta frase de Pigliucci comporta outro tipo de preconceitos sobre a obtenção de riqueza.
“Rand would object that establishing double standards, one for yourself and one for the rest of the universe, makes perfect sense.”

Isto é exactamente o contrário de tudo o que Rand defendeu. A base do pensamento de Rand é que há absolutos, não admite o relativismo moral e condena veementemente qualquer double-standard. É fácil verificar isto quase em cada página, em cada frase escrita em qualquer dos seus livros e artigos.
“…nature red in tooth and claw evokes images of “every man for himself,” in pure Randian style. In fact, Herbert Spencer popularized the infamous doctrine of “Social Darwinism” (which Darwin never espoused) well before Ayn Rand wrote Atlas Shrugged.”

O equívoco nesta frase é fazer equivaler o “every man for himself” de Rand com “…nature red in tooth and claw…”, quando o que está escrito é o que já transcrevi acima do discurso de John Galt. Daí concluir o que escreve Pigliucci parece-me no mínimo abusivo.
“On the other hand, it would also provide Ayn Rand with an argument that most humans are simply stupid, because they don’t appreciate the math behind the game.”

Isto vem a propósito da cooperação. Por todo o Atlas Shrugged são defendidas formas de cooperação. O refúgio de Galt, Midas, Rearden, etc é cooperação, tal como os esforços de funcionários de empresas (ver trabalhadores da Rearden Metal), de caminhos de ferro e entre diferentes empresários (ver fornecedores da Taggart) . A diferença do que Rand escreveu para o que dizem tais especialistas, é que para ela a única forma admissível de cooperação é voluntária e construtiva. Em todo o livro ataca a cooperação dos poderosos (Governo, empresas monopolistas, cientistas corruptos e outros pequenos poderes) quando a sua finalidade é protegerem-se da concorrência, abusar do poder monopolista, desresponsabilizarem-se e no caso do Governo favorecer alguns em detrimento de outros através da redistribuição (cooperação compulsiva) e impor a autoridade pela violência.
“And the emerging picture is one of fairness—not egotism—as the smart choice to make.”

Fairness – aplauso Randiano.
Egotism – lá está. Pigliucci não leu Rand, senão saberia que em “The virtue of selfishness”, ela faz a distinção clara entre dois conceitos: egotism e egoism. No caso deste autor começa o artigo com egoism e acaba-o com egotism. Desonesto.
Rand subscreveria o primeiro artigo cujo título é: "Why cooperate? It's a pleasure, says Emory study"
Se cooperar é um prazer, se contribui para a felicidade das pessoas, pois cooperem, diria.
Conviria ler Rand antes de lhe imputar ideias que ela não defendeu, mas é demasiado vulgar e há demasiados exemplos do medo de lhe reconhecer honestidade e coragem.