10.11.05

Cheiro a Weimar

A imigração em geral não depende apenas da existência de níveis de vida muito diferentes entre dois territórios. Depende sobretudo da existência de postos de trabalho por preencher no território que é mais rico. As grandes vagas de (e)imigração dos séculos XIX e XX fizeram-se para países com um pujante crescimento económico.

Ora, as economias europeias pouco crescem. O que atrai os imigrantes à Europa é a escassez de mão-de-obra para alimentar o Estado Social, que precisa deles para manter os subsídios de desemprego e as pensões de reforma.

É notável a perversidade de todo o mecanismo os europeus recusam-se a entrar em certas profissões desqualificadas, a isso preferindo o desemprego e o subsídio que ele garante.###

Mas como elas têm de ser desempenhadas, os imigrantes são convidados a fazê-lo. Aceitam condições de trabalho e remunerações intoleráveis para um europeu original. Já os seus filhos recusam o mesmo destino. Não só as suas expectativas são mais elevadas, como, sendo cidadãos plenos, recorrem livremente às esmolas do welfare state.

É assim oferecido à segunda geração um incentivo ao desemprego. E deste modo se alimenta a elevada taxa de desemprego que caracteriza as sociedades europeias, a qual tem de ser coberta por novos imigrantes, que voltam a aceitar horríveis condições laborais. Afinal, aquele que é suposto ser o modelo de protecção social mais sofisticado não dispensa a existência de uma subclasse permanente, sem plenos direitos económicos, cívicos e políticos.

Incapazes de lhes oferecerem oportunidades para além do perpétuo subsídio de desemprego, os países europeus remetem os filhos de imigrantes para aldeias etnográficas, onde, em nome do multiculturalismo, os deixam prosseguir hábitos tantas vezes contrários à lei e à moral tradicionais europeias.

(...)

E agora, depois de 15 dias de manifestação de ódio dos filhos de imigrantes pela sociedade que acolheu os seus pais, o que vai fazer a França tradicional? A França branca e dos imigrantes de primeira geração (onde, de resto, se encontra grande número de votantes em Le Pen)?

Atrevo-me a sugerir (esperando, porém, que um milagre aconteça) que fará uma de duas coisas (ou as duas juntas) igualmente trágicas ou demonstrar uma compreensão ainda maior pela desgraça dos "jovens rebeldes", assim contribuindo para aprofundar a deliquescência da autoridade republicana, ou afirmar um ódio radical ao "estrangeiro". Parece uma situação sem saída? Parece. Mas há circuntâncias em que assim é. Também a fraqueza da Alemanha de Weimar não tinha uma solução feliz.