Sobre as Leituras e as Ilações
O somatório dos votos, ao contrário daquilo que os senhores jornalistas gostam de fazer crer, não forma uma "vontade geral". Ao contrário do que disse o senhor Portas há uns anos, o facto de o PSD, aquando da vitória de Durão, não ter tido maioria absoluta não significou que "os portugueses" queriam o CDS no governo, em coligação com o PSD. Significou que uma maioria das pessoas queria o PSD no governo, mas que essa maioria não foi suficiente para formar governo sozinho. O somatório dos votos individuais numas eleições é apenas isso, o somatório dos votos individuais, e não a expressão de uma "vontade geral". A "vontade geral", por muito que isso custe aos nossos políticos e jornalistas nas noites eleitorais, não existe. Se o governo eleito não tiver uma maioria absoluta, isso não significa que "os portugueses" queiram um governo desse partido, mas sem maioria absoluta. Apenas significa que não houve um número suficiente de portugueses que tenha escolhido esse partido. Numa democracia, a escolha e a formação de um governo não se fazem a partir de uma vontade geral. Numa democracia, uma minoria sujeita-se à escolha de uma maioria, enquadrada pela lei. E ao fim de quatro anos, as pessoas podem escolher outra vez. E aí, aqueles que forem escolhidos pela maioria governam, e os que foram escolhidos pela minoria ficam na oposição. Esse tipo de interpretações da "vontade geral" é ainda mais abusivo em eleições autárquicas. Terão "os portugueses" querido penalizar o Governo? Ou quiseram escolher o que julgavam ser o melhor candidato? Alguns votaram tendo os seus olhos unicamente postos no seu concelho. Outros votaram contra a política do Governo. E dentro deles, alguns tê-lo-ão feito por a acharem "neoliberal", outros por razões diferentes. Todas opções individuais que, somadas, resultam apenas na soma de opções individuais. Todas motivadas por diferentes razões. Motivações essas cuja dimensão não podemos medir, porque no voto é apenas expresso o resultado das escolhas dos indivíduos, não as razões que as motivam. Tudo muito complicado para muitos dos nossos jornalistas.
por Anónimo @ 10/10/2005 10:42:00 da tarde
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