O desafio cultural.
De entre os vários comentários ao meu ‘post’, sou forçado a destacar este (publicado a 18 de Outubro - link directo indisponível). Sendo do CDS, considero-o um bom exemplo do desafio cultural que há pela frente.
O autor do texto entende o IRC como um instrumento da política económica do Estado, através do qual este convence os sócios a reter lucros ou a distribuí-los. Realça a importância daquele imposto, não só por uma questão de receita para o Estado, como também por uma questão de justiça social. Não explica porque não concorda com o fim da segurança social obrigatória, do rendimento mínimo garantido e do incentivo às empresas, mas julgo serem por razões em tudo idênticas à defesa que faz do IRC. O Estado e o seu papel na regulamentação da actividade económica.
Uma boa maioria dos militantes do PSD e do CDS estão impregnados desta visão centralizadora da actividade económica e, pelo que leio e ouço por aí, acreditam ver no Estado o principal condutor da economia e do progresso. O Estado põe e dispõe. Tira dali e incentiva aqui. Sabe melhor que ninguém onde, quando e como se deve investir. A ele cabe dar o exemplo. Sem o Estado o país parava. Tão preocupados estão com este fenómeno que esquecem as pessoas e as empresas. Assim sendo, a sua intervenção na política cinge-se à apresentação de pequenas nuances relativamente às políticas dominantes.
O que explica esta fé no Estado? A meu ver, existem duas razões. Em primeiro lugar, o Estado é algo indeterminado. Um ser que está longe e nas alturas. Bem intencionado que é, as suas falhas não podem ser individualizadas, pelo que não há verdadeiramente um culpado. E quando é preciso sacrificar alguém, de quem nos lembramos? Do líder do governo. Aquele que foi escolhido pelo povo. Por isso, o povo é esperto quando escolhe o nosso candidato e burro quando vota no adversário. Em segundo lugar, o Estado transmite poder. Esse poder só se conquista vencendo eleições e estas ganham-se com promessas. O que é mais eficaz que prometer relançar a economia? A dinâmica de um político passa por nos convencer que ele tem a fórmula mágica, que só ele pode mudar as nossas vidas e nele devemos depositar todas as esperanças. O político é imprescindível porque se propõe conquistar, em nome dos nossos interesses, o aparelho estatal.
Este é o desafio cultural dos nossos dias. Convencer os cidadãos deste país que sabem melhor que ninguém como governar as suas vidas. Esperar uma boa dose de humildade da parte dos políticos, de forma a darem espaço de manobra à sociedade para agir. Para pôr o acento tónico no Estado já temos o PS e o PCP. Não precisamos do CDS para nada.
por André Abrantes Amaral @ 10/20/2005 10:26:00 da manhã
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