Azar
Durante anos, gente de elevadíssima formação humanística, fundos conhecimentos e impecáveis pergaminhos éticos vociferou (e vocifera) contra o famoso muro separando os EUA do México e que procura impedir a entrada de imigrantes ilegais no primeiro daqueles países. Eis uma coisa bárbara, que só os anormais dos "americanos" e a sua mais que consabida brutalidade explicaria. Nunca (por nunca!) na Europa se verificaria tal coisa.
Pois não. Por isso é que ontem morreram seis imigrantes clandestinos africanos às mãos do exército espanhol, ao tentarem atravessar um muro separando Marrocos da Espanha no enclave de Melilla. A isto juntam-se mais cinco (salvo o erro) mortos no outro dia.
Ah, o que para aí não seria se o exército americano limpasse o sebo a onze imigrantes mexicanos. No fundo, foi azar para a memória destes infelizes não terem sido mortos por americanos. É que, às mãos do exército humanitário de um país europeu, às ordens de um notável governo de esquerda, muito pacifista e pós-moderno, que retirou as tropas do Iraque e legalizou os casamentos homossexuais, ninguém lhes vai ligar. Se fossem os marines, já estava instalado um grande carnaval à porta da Casa Branca e das embaixadas americanas, com Cindy Sheehan, Joana Amaral Dias ou Ana Gomes em manifestações incontidas de indignação.
A única parte positiva da história é que ficámos a saber porque é que o exército espanhol saiu do Iraque: é que em vez de andar a matar terroristas iraquianos que querem minar o funcionamento da nova democracia local, passaram a desempenhar a tarefa muito mais nobre de matar imigrantes africanos em busca de uma vida melhor.
por Anónimo @ 10/07/2005 01:54:00 da tarde
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