Jogada de mestre
Coloquemos de parte a veracidade de todos os factos e libertemos a imaginação. Vamos supor uma jogada política de mestre. Que Soares nunca traiu Alegre, que este nunca se sentiu ferido por aquele. Que tudo foi um jogo, um jogo sublime.
Até há uns meses atrás Alegre era um candidato com pouco potencial. Não aquecia nem arrefecia, um homem antigo, idealista e que, devido à sua fraqueza política, não congregava toda a esquerda. Nem o PC, nem o BE o apoiavam e o até o PS o via como uma opção de recurso e de derrota assumida. Até o dia em que Soares, antecipando-se a tudo e a todos, propõe-se pensar numa hipotética candidatura a Belém. Com esta tirada, não só testa a vontade de Cavaco em realmente avançar, como chama a atenção do valor do seu amigo Alegre. A candidatura de Soares a Belém vem fora de tempo, de época e não se enquadra nos objectivos que Soares nos foi dando a conhecer serem os seus. Há algo na sua iniciativa que não bate certo. Talvez pela estranheza, o PS não rejubilou, os demais partidos de esquerda não o apoiam e Alegre surge, não como o homem injustiçado, mas como o aquele que podia unir toda a esquerda.
Se Soares regressar de férias dizendo que, após ter escutado a sociedade civil, decidiu não se candidatar, Manuel Alegre terá o caminho livre. Será visto como um resistente (ao bom gosto da esquerda nostálgica) e poderá ter o aval e apoio de todos. Ganhará legitimidade.
Seria uma jogada de mestre que resulta de uma mera especulação surgida numa conversa de almoço. Se verdadeira ou não, pouco interessa. Um pouco de imaginação e fantasia nunca fez mal a ninguém. O que acontece é que por vezes até se pode acertar.
por André Abrantes Amaral @ 8/22/2005 01:38:00 da tarde
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