Um perigo chamado Cavaco
Soares, ao decidir candidatar-se à presidência da república, criou um problema complicado à direita, principalmente à direita liberal. Ao dizer-se pronto para repetir um novo mandato de Presidente, Soares une a esquerda de forma a obrigar Cavaco a correr contra si.
Sucede que Cavaco Silva, em Belém, não é o melhor que pode suceder a quem anseie a adopção de políticas liberais no nosso país. Com Cavaco em Belém será difícil a eleição de um governo de direita e bastante complicada (senão impossível) uma maior liberalização da sociedade. Serão dez anos de espera, com o senão de ficar a ideia que, nem com um Presidente de direita, ter sido possível fazer as necessárias reformas.
Mas há uma consequência ainda mais grave para os liberais. Uma democracia liberal precisa de ordem, mas dispensa a autoridade. Uma democracia liberal precisa de pessoas, mas um indivíduo por si só, é dispensável. Ora, é precisamente o contrário disto que os partidos políticos da direita portuguesa esperam de Cavaco. Eles querem estabilidade (que virá da natural autoridade do ex-primeiro-ministro) e acreditam que a salvação pode vir de um homem só. Este dogma, em que a direita tantas vezes caiu e a atraiçoou, pode estar prestes a repetir-se de novo.
Ao acontecer, a ideia de uma sociedade mais liberal, porque mais livre, ficará hipotecada por mais uns anos, senão mesmo por mais uma geração que corre o risco de ser forçada a desistir.
por André Abrantes Amaral @ 7/27/2005 12:04:00 da tarde
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