Para o fim de semana, um post sobre a "direita" socialista de inspiração "cristã"
Não duvido que o Rodrigo Moita de Deus seja uma óptima companhia para almoço, mas já no que diz respeito a outros planos, o balanço é menos positivo.
Respondendo a este meu post, o Rodrigo Moita de Deus proclama, piamente, o carácter alegadamente cristão dos seus impulsos redistributivos. Como tal implicaria recorrer a aborrecidas referência literárias para as quais o RMD já evidenciou repetidamente não ter a mínima vocação, não procurarei demonstrar que a utilização dos meios coercivos do Estado para promover padrões redistributivos dificilmente pode ser compatibilizável com uma visão cristã sobre a caridade, a propriedade privada e o papel da família e restantes instituições intermédias.
Não vou sequer salientar que, caso o RMD persisitisse na sua aderência a políticas de "redistribuição cristã", então, o mais natural seria ser pelo menos ser internamente consistente nos seus erros e adoptar a posição do Timshel, afirmando-se orgulhosamente de esquerda.
Pela mesma razão de não querer abusar da (inteiramente legítima) limitada vocação teórica do RMD, não vou também tentar explicar que redistribuição de riqueza é diferente de redistribuição do rendimento ou que a própria ideia de redistribuição implica a existência de uma autoridade central que a promove segundo um padrão específico, facto que é incompatível com a noção tradicional de caridade cristã. Não invocarei também a distinção entre padrões de distribuição positivos e negativos nem comentarei a proposta de direitos sociais de cidadania avançada por João Carlos Espada. Igualmente me abstarei, para não maçar o nosso amigo RMD, de explicar em que consistem propostas como a da tributação negativa de M. Friedman ou a hipótese de garantia de limiares mínimos de rendimento avançada por Hayek.
Como, apesar de tudo, sou incapaz de fugir ao perigoso vício da gula livresca (um vício de que RMD, como a generalidade da "direita" social-democrata, está isento), e invocando em minha defesa apenas a conhecida máxima de Spooner, segundo a qual "vícios não são crimes", recorro a um texto de Ludwig von Mises, que mantém a sua actualidade em muitos aspectos:Christian Socialism, as it has taken root in the last few decades among countless followers of all Christian churches, is merely a variety of State Socialism. State Socialism and Christian Socialism are so entangled that it is difficult to draw any clear line between them, or to say of individual socialists whether they belong to the one or the other.###
(...)
The protagonists of Christian social reform as a rule do not regard their ideal Society of Christian Socialism as in any way socialistic. But this is simply self-deception. Christian Socialism appears to be conservative because it desires to maintain the existing order of property, or more properly it appears reactionary because it wishes to restore and then maintain an order of property that prevailed in the past. It is also true that it combats with great energy the plans of socialists of other persuasions for a radical abolition of private property, and in contradistinction to them asserts that not Socialism but social reform is its aim. But Conservatism can only be achieved by Socialism. Where private property in the means of production exists not only in name but in fact, income cannot be distributed according to an historically determined or an any other way permanently established order. Where private property exists, only market prices can determine the formation of income. To the degree in which this is realized, the Christian social reformer is step by step driven to Socialism, which for him can be only State Socialism.
(...)
Only a part of the Christian socialist movement has openly subscribed to this radical programme. The others have shunned an open declaration. They have anxiously avoided drawing the logical conclusions of their premises. They give one to understand that they are combating only the excrescences and abuses of the capitalist order; they protest that they have not the slightest desire to abolish private property; and they constantly emphasize their opposition to Marxian Socialism. But they characteristically perceive that this opposition mainly consists in differences of opinion as to the way in which the best state of society can be attained.
-Ludwig von Mises, Socialism (Section III: Particular Forms of Socialism and Pseudo-Socialism)
por André Azevedo Alves @ 6/18/2005 04:16:00 da tarde
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