Um muro montado
Numa cidade como Setúbal, construir sem demolir, construir fora do limite urbano, significa construir em zona de montado. Senão veja-se: a sul temos o rio Sado, a oeste a Arrábida (com as limitações que o parque natural impõe), a norte Palmela (com a qual haverá dentro em breve mistura de limite urbano). Sobra a expansão em direcção a este / nordeste.
Sendo o sobreiro parte da vegetação de toda a zona este da cidade (desde as margens do rio até às planícies mais a norte), pode-se dizer que o montado constitui um muro restringindo o crescimento urbano, dadas as actuais condicionantes legais.
A expansão urbana de Setúbal colidirá em breve com este muro de sobreiros. Algumas das restrições que hoje existem deixarão de se poder respeitar (via Setúbal na Rede): A conversão de uma área de sobreiros só é permitida quando estão em causa equipamentos colectivos de imprescindível utilidade pública. Para que a utilidade pública seja concedida é preciso reunir provas de sustentabilidade e de inexistência de alternativas válidas.
Mas não se pense que o montado está em perigo de extinção. Quem saia dos meios urbanos (onde vivem a maior parte dos ilustres escribas da blogosfera) e viaje um pouco pelo Alentejo fora, vai poder apreciar o enorme número de chaparros que foi plantado; hectares incontáveis de sobreiros recém nascidos. O sobreiro é uma árvore de crescimento lento, que só ao fim de quase duas gerações e em número relativamente elevado (a cortiça é pesada e valorizada em arrobas - 15Kg) gera proveitos. Algumas centenas de árvores não terão, por isso, um impacto significativo na dimensão do montado português nem significam um choque importante no futuro da indústria corticeira nem na criação do porco preto. Pelo contrário, valoriza-se os chaparros que nos últimos anos têm sido plantados.
por LA @ 5/18/2005 05:19:00 da tarde
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