O défice de segurança
O aumento dos impostos decidido por Sócrates, tem a particularidade de pôr a nú uma situação perigosa que se traduz na facilidade com que foi aceite. Este raciocínio poderá à primeira vista ser contraditório. Na verdade, quando um governo pede sacrifícios em nome da estabilidade orçamental e o povo responde com serenidade, só podemos esperar o melhor.
No entanto, se por um lado esta ideia é verdadeira, ela pode também ser demonstrativa de algo muito grave. O primeiro-ministro justificou as medidas que tomou como sendo de defesa do Estado social. Dito por outras palavras, e de forma entendível para a grande maioria dos Portugueses, em defesa dos empregos que duram uma vida inteira, dos seus ordenados, garantidos que estavam quando começaram a trabalhar. Em defesa, numa palavra, da segurança.
Não é o combate contra o défice que move o país, mas a luta pela segurança.
Em nome da segurança, o país aceita que o Estado lhe vá cada vez mais ao bolso. Aceitará, porventura, o fim do sigilo bancário e aceita, como referido neste ‘post’ do João Miranda, a promoção de "denúncias por parte de vizinhos invejosos de contribuintes que, tendo sinais exteriores de riqueza, fogem ao fisco".
Em nome da segurança, o país aceita, lentamente e sem sentir que o faz, restringir algumas das liberdades que levaram 50 anos a conquistar.
Foi Salazar quem resolveu o problema que era o défice e que vinha desde o século XIX. Foi a segurança que levou Salazar ao poder. É hoje, como ontem, a segurança que põe em risco a liberdade. Como o afirmou a princesa Padmé, no último Star Wars, quando o senador Palatine institui o Império sob as ruínas da República, "So this is how liberty dies — with thunderous applause."
por André Abrantes Amaral @ 5/31/2005 11:43:00 da manhã
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