20.3.05

Paridades, de novo

- Não posso deixar de vos dizer como estou satisfeita por ter sido finalmente eleita uma mulher para presidente do Conselho Científico!
Entreolhámo-nos, quase todos homens, departamento de engenharia e tecnologia que somos: o espanto era geral. Pedi a palavra e saiu-me isto:
- O teu espanto por ser eleita uma mulher não seria maior se tivesse sido eleito um macaco.
Nenhum de nós tinha dado nenhuma importância, durante todo o processo eleitoral, ao género dos candidatos. Alguns de nós, eu incluído, não tinham sequer pensado qual ele seria. Só perante a afirmação da minha colega me dei conta do género da eleita: de facto, era mulher. E então? Para todos nós, com a excepção da minha colega, era um facto irrelevante. E, apesar da sua declaração infeliz, assim o continuámos a considerar. Mas instituam quotas, forcem a paridade, tornem obrigatória a rotatividade entre sexos no acesso aos cargos uninominais, e ganharão com isso um profundo desprezo pelas presenças femininas nesses cargos, vistos não como resultado do mérito pessoal, mesmo quando ele existir, mas como resultado de uma política de discriminação sexual, de uma política em que o sexo tem mais valor que as qualidades profissionais, científicas ou pessoais dos candidatos.

(A propósito de todos os artigos escritos ao longo da última semana exigindo paridade nas listas de candidados a deputados e nos cargos políticos.)